Era Quarta-feira à tarde, dois dias antes da Sexta-feira santa. A
relva estava cortada, os canteiros das flores cultivados, o pátio
varrido, e tudo estava quase preparado para as celebrações da Páscoa.
Sendo um adolescente de 14 anos de idade e o mais velho na minha
família, eu tinha a responsabilidade de ir fazer grandes recados para
buscar qualquer compra que fosse necessária.
Por volta das 14H00
o meu pai pediu-me para ir aos montes buscar as cabras para mais perto
de casa. Eu só tinha andado os cerca de 300 metros, até perto da casa do
Denis, quando começaram a faiscar relâmpagos no céu e o ribombar de
trovões, e a atmosfera a escurecer. (Nas Caraíbas, uma pessoa sabe
exactamente o que fazer a seguir, isto é, buscar imediatamente abrigo da
chuva). Eu corri para a varanda do Denis justamente a tempo de vê-lo e
ao seu irmão a saírem pela porta fora e a dirigirem-se para a cozinha no
pátio, e eu decidi unir-me a eles.
Já molhado da repentina
chuvada, nós atiçámos o lume, e logo que secámos saímos de junto do lume
para nos irmos sentar num banco a um canto da cozinha. A chuva caía a
cântaros e sabíamos que ninguém se aventuraria a sair para se vir unir a
nós na cozinha. Nós estávamos sozinhos.
O Denis e o tio do
Pedro cultivavam tabaco e tinham uma grande quantidade a secar por cima
do fogo. O Pedro, de 17 anos de idade, fez um grande cigarro das folhas
do tabaco que estavam a secar. O Denis, que tinha a minha idade, fez o
mesmo. Eles acenderam os cigarros e começaram-nos a chupar
profundamente. O Denis tossiu e cuspiu, mas o Pedro estava
completamente silencioso, ele estava justamente sentado ali com o
cigarro entre o seu polegar e o dedo indicador, com o cotovelo apoiado
no seu joelho. O Denis imitou a postura do seu irmão, e eu observava com
espanto, descobrindo pela primeira vez que os meus amigos eram
fumadores.
Dá uma chupadela. – Disse o Denis enquanto estendia o seu cigarro para mim.
Não, não, eu não fumo – respondi.
Não importa; isto não te faz mal. Só um pouco de tosse a princípio, o
resto é fácil. O Pedro e o Denis pareciam muito homens, e eles eram meus
amigos.
Vá, experimenta, insistiu o Pedro. Olha para mim, não há
nenhum problema. Experimenta só e sente o fumo morno a fazer cócegas na
tua garganta. Tu irás gostar. O Pedro pôs o seu braço por cima dos meus
ombros, pôs o cigarro, meio consumido, diante da minha cara, e,
calmamente disse, vá experimenta. Sê um homem.
Eu peguei no
cigarro, coloquei-o na minha boca e fiz quatro chupadelas profundas. Os
meus olhos encheram-se de lágrimas. Eu tossi e cuspi. Senti um gosto
horrível na minha boca. Voltei a dar o cigarro ao Pedro. Eles riram. Eu
também tentei rir!
Pouco depois disso parou a chuva. Nós
combinámos encontrar-nos às 17H00 para passarmos a noite juntos,
enquanto fazíamos recados aos nossos pais. Trouxe as cabras para perto
de casa e apressei-me a ir tomar um banho.
Durante o meu banho
senti sensações inusitadas. Senti a minha cabeça como se fosse um pião a
girar; a minha garganta estava seca; sentia cãibras no meu estômago;
sentia vontade de vomitar, mas não conseguia. As minhas pernas ficaram
sem forças; eu suava e tive de encostar-me à parede para não cair.
Fiquei com medo. Os meus pais não devem ter sabido como eu me senti;
caso contrário não me teriam permitido ir às lojas. De qualquer maneira,
consegui sair de casa sem eles notarem qualquer coisa estranha. Com o
dinheiro bem colocado nos meus bolsos, e o cesto das compras na minha
mão, depressa percorri o caminho até me encontrar com o Denis e o Pedro.
Eu não conseguia coordenar muito bem os meus movimentos. Orei, Senhor,
ajuda-me a ficar bom.
Enquanto caminhava os cerca de três
quilómetros com os meus amigos pela estrada de terra até às lojas, achei
que levantava os meus pés mais alto do que o normal, para evitar
tropeçar. Aquela noite foi uma das mais terríveis na minha vida. Não só
não tive prazer na saída daquela noite, como me roubaram os dois quilos e
meio de arroz que fora comprar sem eu dar conta disso. Fizeram um
buraco no fundo do cesto e só estava o papel do embrulho no cesto quando
cheguei a casa.
Essa foi a primeira e a última vez que usei drogas.
Pensa bem nisto: Porquê é tão difícil dizer não a amigos, mesmo quando sabes que o que eles estão a fazer é errado?
«Tu foste comprado por um preço. Portanto, honra a Deus com o teu corpo.» (I Coríntios 6:20, NIV).
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